Equipe da Uniswap Foundation recebe altos salários enquanto o protocolo e o preço do token mostram sinais de declínio

Autora: Chloe, ChainCatcher

A Uniswap Foundation (UF) recentemente gerou debates acalorados na comunidade DeFi devido à alta remuneração de seus executivos. Uma comparação detalhada entre os dados financeiros da UF e do Optimism Grants Council da Optimism Foundation mostra que a eficiência no uso de recursos da UF é baixa.

Essa controvérsia não só fez com que os detentores de UNI questionassem o valor fornecido pela fundação, como também levou Pepo, um dos principais contribuidores da Uniswap DAO, a se pronunciar. Ele já havia deixado o cargo anteriormente devido à insatisfação com a governança da UF.

O custo salarial dos três principais executivos da Uniswap Foundation equivale ao da equipe inteira da Optimism

De acordo com o relatório financeiro de 2024 da Uniswap Foundation, a fundação distribuiu cerca de US$ 9,99 milhões em subsídios, mas o total de salários pagos aos funcionários chegou a US$ 4,79 milhões, sendo que a remuneração dos executivos somou US$ 3,87 milhões. Somando outras despesas de aproximadamente US$ 2,8 milhões, o gasto total da UF foi de cerca de US$ 12,8 milhões. Isso significa que os salários dos funcionários representam quase 37,5% do total de despesas, enquanto a remuneração dos executivos corresponde a 22% do total.

Em comparação, o Optimism Grants Council teve um orçamento total de aproximadamente US$ 63,5 milhões no mesmo período, com salários internos de apenas cerca de US$ 2,14 milhões. Mesmo considerando uma estimativa conservadora de US$ 500 mil em custos de KYC, o total chega a US$ 2,6 milhões.

ImperiumPaper destacou: “O custo dos três principais executivos da UF equivale ao da equipe inteira da Optimism, mas a UF distribuiu apenas 20% dos fundos da Optimism.” Ele pediu que os detentores de UNI exijam que o conselho da UF explique o valor que está sendo entregue. Os apoiadores argumentam que empresas Web2 desse porte certamente gastariam ainda mais para contratar executivos de alto nível, enquanto os críticos afirmam que a remuneração da fundação não deve ser comparada ao setor privado, especialmente quando pessoas com experiência mediana recebem salários acima do mercado, como acontece em muitos projetos do setor cripto.

Olhando para o passado, o UNI passou por grandes oscilações de preço nos últimos dois anos. Após fechar 2023 em cerca de US$ 7,35, disparou para mais de US$ 18 em dezembro de 2024, mas no início de 2025, uma ampla correção no mercado cripto fez o UNI cair abaixo de US$ 10 em fevereiro, continuando em queda ao longo do ano.

Recentemente, impulsionado pela proposta de governança Unification, o UNI subiu cerca de 19% em um único dia, em 20 de dezembro. Em meio à lateralização dos principais tokens, saltou rapidamente da faixa de US$ 5,50 para US$ 6,27, recuando para US$ 5,76 até o momento desta publicação.

Já o TVL da Uniswap caiu 60% do pico de quase US$ 10 bilhões em 2021-2022 para cerca de US$ 4 bilhões, o que significa que, enquanto o preço do token e o valor total bloqueado do protocolo caíram pela metade, os salários dos executivos ainda representam quase um quarto do total de despesas, levantando preocupações na comunidade sobre se a remuneração dos funcionários realmente contribui para o crescimento do protocolo. Até o momento, a UF ainda não respondeu oficialmente às críticas mais recentes.

Além disso, Pepo (@0xPEPO), ex-contribuidor da Uniswap DAO que deixou o cargo este ano devido à insatisfação com a governança da UF, também compartilhou o post polêmico, dizendo que espera que seus amigos consigam escapar do “inferno salarial”, ironizando o salário anual de US$ 700 mil de um dos executivos.

A operação da Uniswap é baseada em uma estrutura bizantina complexa

Pepo renunciou ao cargo de representante da DAO em maio deste ano, quando detinha 455 mil tokens UNI, sendo um dos 20 maiores representantes da DAO. Segundo a CoinDesk, a saída de Pepo foi motivada por sua insatisfação com a UF, acusando a fundação de priorizar seus próprios interesses e os da Uniswap Labs após receber US$ 165 milhões da DAO, em vez de beneficiar o coletivo da DAO, além de não responder ao feedback e carecer de transparência.

Na época, Pepo declarou no X: “As ações da fundação parecem priorizar o isolamento em vez da colaboração, o que está prejudicando a Uniswap.” Isso reflete problemas profundos de governança na Uniswap, incluindo decisões privadas tomadas por grandes representantes, pouca influência dos membros da DAO e questionamentos sobre o grau de descentralização do protocolo.

A saída de Pepo é vista como um símbolo da diminuição da participação na DAO. PaperImperium, da GFX Labs, afirmou: “Para qualquer DAO, quando um contribuinte sente que só pode causar impacto ao renunciar, isso é uma perda.”

Assim como a maioria dos protocolos DeFi, a Uniswap opera sob uma estrutura “bizantina” extremamente complexa: a empresa com fins lucrativos Uniswap Labs é responsável pelo desenvolvimento tecnológico, a organização sem fins lucrativos Uniswap Foundation (UF) impulsiona o crescimento do ecossistema, enquanto a governança e a alocação de recursos do protocolo estão nas mãos da DAO composta pelos detentores de UNI.

Essa estrutura de governança multifacetada também plantou as sementes para conflitos de interesse. Em março deste ano, a DAO autorizou a transferência de US$ 165 milhões para a fundação, com o objetivo de dar autonomia para impulsionar o desenvolvimento, mas isso acabou gerando uma indefinição nas fronteiras de responsabilidade.

Como alertaram Pepo e outros contribuidores, quando as ações da fundação são questionadas por se sobreporem aos interesses coletivos da DAO, equilibrar os interesses dos detentores de tokens e de outros stakeholders tornou-se uma questão central que a Uniswap — e todos os protocolos DeFi — precisam enfrentar.